O dia em que jovens ferreirenses desfilaram para Júlio Prestes, Governador de São Paulo
- Felipe Lamellas
- 16 de set. de 2022
- 4 min de leitura
Em 1929, um grupo de escoteiros locais, liderados pelo professor Antenor Betarello, prestigiaram as celebrações do 7 de Setembro na capital Paulista e conheceram o então Presidente do Estado
Neste ano, a Independência política do Brasil frente a Portugal completou 200 anos. O 7 de Setembro tornou-se uma das mais populares celebrações no país, inspirando há muitas gerações manifestações de patriotismo e respeito. Entre muitos fatos pitorescos a recordar sobre os tradicionais festejos do 7 de setembro em nossa cidade, um em especial chama a atenção: o dia em que jovens ferreirenses desfilaram para Júlio Prestes, Governador de São Paulo e o último presidente eleito da República Velha.
No ano de 1929, em sua Edição de número 218, o Jornal O Ferreirense noticiava na primeira página, que um grupo de escoteiros locais, liderados pelo professor do Grupo Escolar Antenor Erveu Betarello, prestigiou as celebrações do 7 de Setembro na cidade de São Paulo, participando do desfile que contou com a presença de inúmeras autoridades, entre elas, o então Presidente do Estado de São Paulo (o que para nós hoje, equivale ao cargo de Governador), Júlio Prestes. O mesmo que meses depois disputaria e venceria as eleições presidenciais contra Getúlio Vargas, e que, entretanto, jamais tomaria posse devido aos desdobramentos da Revolução de 1930.
O texto de autoria desconhecida publicado no jornal, não poupa elogios e exaltações a figura dos jovens ferreirenses que se dedicavam ao escotismo, movimento que com relativas continuidades e rupturas ao longo de anos foi tradicional na cidade. “Os escoteiros do Porto eram os únicos que correspondiam à expectativa, praticando o escotismo em teoria e prática”, inicia o artigo.
A linguagem pomposa e bem distante da frieza objetiva e factual que já se habituamos em ver nos jornais e na própria TV atualmente, é uma característica marcante do Jornalismo no início do século XX, que se desenvolvia sob influência do Jornalismo Francês, marcado pela existência de longos textos literários e poéticos, com linguagem às vezes bacharelesca, às vezes vulgar, mas quase sempre poética.
A narrativa continua informando que os jovens ferreirenses partiram pelo trem das 7h da manhã para São Paulo, no dia 6 de setembro, a fim de participar do desfile cívico na capital. Além do professor Erveu Bettarello, o grupo foi acompanhado também pelo então diretor do grupo escolar local, professor Octaviano Luiz de Camargo Junior. O texto conta que a chegada em São Paulo, dos "bravos soldadinhos da bandeira branca da paz”, teve a recepção dos representantes da Associação Baden Powell, famoso grupo de escoteiros, e que em seguida, se alojaram no Grupo Escolar Pary, na Rua São Caetano.
Ainda no dia 6, o grupo de meninos escoteiros de Porto Ferreira, prepararam, por sua conta e risco, a sua própria comida, ao que o Jornal faz questão de destacar: “das associações escotistas do interior, a única que levou cosinha foi a de Porto Ferreira” e completa, mais adiante “hora e meia, após a chegada, era servida a janta farta e boa, com uma boa caneca depois de café saboroso”.
Ao raiar do dia da Independência do Brasil, o jornal conta que os escoteiros acordaram dispostos e bem cedo, se preparando para a participação no desfile. “Os bravos escoteiros ferreirenses, às 4 horas da manhã já estavam preparando o seu café”. O grupo saiu cedo e antes de prestigiar o ato cívico, visitou, conforme consta no relato, o Museu Paulista, o do Ipiranga, reinaugurado recentemente em comemoração ao bicentenário da Independência do Brasil.
“Quando o desfile começou e os nossos escoteiros desciam a escadaria do Parque do Museu [Ipiranga], uma vibrante salva de palmas saudou-os, enquanto a Rádio anunciava a marcha dos escoteiros de Porto Ferreira. E durante todo o trajeto a nossa fanfarra mereceu aplausos da enorme multidão”, conta O Ferreirense.
Vale destacar que participou do desfile o então Governador Júlio Prestes e demais autoridades do estado. Sobre isso, o texto conta que os escoteiros prestam homenagem ao político, conforme segue: “Os escoteiros, lembrados do seu dever cívico, prestaram a justa homenagem ao seu digníssimo chefe e presidente, o ilustre Dr. Júlio Prestes, orgulho não só de São Paulo, mas do Brasil também”. Ao que segundo o texto, retornou: “Sua Excia, patriota de fibra, agradeceu a homenagem”.
No fim da tarde daquele 7 de setembro, os escoteiros se reuniram com o “seu grato padrinho”, o Senador Procópio de Carvalho, político local e de grande influência à época, alcançando o posto de Senador do Estado. O Ferreirense conta que o grupo presenteou o político com um retrato do conjunto escotista local, devidamente assinado por todos, e que o Senador teria retribuído a gentileza levando os escoteiros para assistirem ao cinema.
No dia 8 de setembro o grupo visitou a Associação Baden Powell, depois almoçaram e foram assistir a uma matinê no Cinema Colombinho. Segundo o jornal, o encontro entre o grupo ferreirense e os escoteiros da Baden Powell foi destaque entre as páginas do Jornal O Estado de São Paulo. No dia 9 regressaram para Porto Ferreira, sendo recebidos com grande euforia pela população local.
O projeto Porto de Memórias foi idealizado pelo ferreirense e jornalista Felipe Lamellas e se propõe a contar histórias de vida de personalidades marcantes para a cidade, conhecidas ou não. O objetivo principal é resgatar e preservar a memória da comunidade local, contando histórias, causos e lembranças de membros da sociedade, que se confundem com a própria história da cidade.
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