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A Revolução de 32 pelas páginas do jornal O Ferreirense

Durante meses o jornal destinou boa parte de suas páginas aos assuntos relacionados à guerra, em vários momentos o periódico deixa claro que defende o retorno "ao regime das garantias constitucionais".


No dia 9 de julho de 1932 estourava em São Paulo um conflito armado contra o governo de Getúlio Vargas, que havia chegado ao poder anos antes com a Revolução de 1930.


A luta de São Paulo, como o nome antecipa, era em defesa da Constituição, um tanto desrespeitada no início do Governo Vargas. Mas também, funcionou como uma tentativa das oligarquias paulistas de retornarem ao poder, de onde foram descoladas com o Movimento de 30, que pôs fim à chamada República do Café com Leite.


O jornal O Ferreirense, principal da cidade na época, bem como muitos outros jornais do interior paulista, deu grande ênfase na cobertura do levante de 1932, se posicionando de forma favorável ao conflito. Isso se explica pelo fato de que o jornal, na época, assumia o papel de defensor dos interesses das elites (principalmente dos cafeicultores).


Durante meses o jornal destinou boa parte de suas páginas aos assuntos relacionados à guerra, em vários momentos o periódico deixa claro que defende o retorno "ao regime das garantias constitucionais", ou seja, o governo de Vargas era visto como inconstitucional e ilegítimo por parte da aristocracia rural paulista.


Telegramas vindos da capital do estado e publicados no O Ferreirense responsabilizavam a prefeitura por conseguir donativos, como dinheiro, alimentos e armas... Essas doações eram publicadas pelo jornal, com os respectivos nomes dos doadores. Em um momento aparece um informe no jornal que exigia que todos aqueles que tivessem armas, as entregassem para a prefeitura, a fim de serem utilizadas na guerra.


A população atendeu o pedido e foram doados desde altos valores em dinheiro, até leitões, galinhas, sacas de arroz, feijão e milho. Tudo pela "manutenção das forças constitucionais". A adesão da população ao movimento foi grande, várias pessoas se mobilizaram para ajudar como podiam. Isso mostra que boa parte da população (mais ricos) estavam descontentes com o início da administração do governo Vargas.


Semanas depois, diante das dificuldades enfrentadas pelas tropas, foi iniciada uma campanha para arrecadar ouro. Novamente, muitas outras doações. Teve padre doando crucifixo, senhores doando relógios e abotoaduras, e senhoras brincos, correntes e anéis. A campanha foi bem sucedida e o jornal fazia questão de reconhecer o trabalho e dedicação da população.


O apelo não era apenas por doações, em muitos casos o jornal explicita a necessidade de voluntários para a guerra. Seja para o combate, seja para "abrir e fazer trincheiras". E além disso, ainda criticavam moços e homens "que olham com indiferença o movimento". O jornal, nesse momento, deixa de lado o ideal de imparcialidade e assume uma postura combativa, defendendo o conflito e criticando todos aqueles que se opunham ao movimento.

Alguns ferreirenses foram para o campo de batalha, bem como homens de cidades vizinhas, como Santa Rita do Passa Quatro e Pirassununga. Alguns combatentes ferreirenses são: Nelson Pereira Lopes, José da Silva Júnior, Antonio Rodrigues, Agilio Barroso, Sebastião de Almeida, Jesé França, João Malaman, Durval Arnone.


Apesar de publicações constantes de frases do tipo "A vitória é certa! Venceremos de qualquer forma!", O Ferreirense publica na edição de 16 de outubro um texto com a manchete "A hora da paz", anunciando, discretamente, o fim do movimento armado de 1932 e a derrota de São Paulo. Imediatamente o jornal interrompe as publicações e procura minimizar as tensões e apaziguar os conflitos. Getúlio Vargas ganhava a guerra.


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